O pecado renova a Paixão de Jesus
Cristo
Rursum crucifigentes sibimet ipsis Filium Dei, et ostentui habentes ― "Eles outra vez crucificam o Filho de Deus para si próprios e o
expõem à ignomínia" (Heb 6, 6)
Sumário. Quem comete o pecado, contraria todos
os desígnios amorosos de Jesus Cristo, inutiliza para si os frutos da Redenção,
e, como diz São Paulo, pisa o Filho de Deus aos pés, despreza e profana seu
sangue e renova a sua paixão e morte. Portanto, especialmente neste tempo de
carnaval o Senhor é cada dia crucificado milhares de vezes. Imagina que são
tantos os Calvários quantos são os antros do pecado. Ai, meu pobre Senhor!

Mais, o pecador, como diz São Paulo, pisa aos pés o Filho de Deus,
despreza e profana o seu preciosíssimo Sangue, chega até ao excesso de renovar
a sua crucifixão e morte: Rursum crucifigentes sibimet ipsis
Filium Dei ― "Crucificando outra vez o
Filho de Deus para si próprios". Isto, na interpretação de Santo
Tomás, se verifica de duas maneiras. Primeiro, pecando se faz aquilo pelo que
Jesus Cristo foi crucificado, a saber, o pecado. Portanto, se a morte do senhor
não houvera sido suficiente para expiar os pecados todos, fora conveniente,
pelo encargo de Redentor, que tomou sobre si, que se deixasse crucificar tantas
vezes quantos são os pecados cometidos. Em segundo lugar, pelo pecado comete-se
uma ação mais abominável aos olhos de Jesus e mais dolorosa para seu Coração do
que todos os opróbrios e penas padecidas na sua Paixão e por isso de boa
vontade quisera tornar a sofrê-las afim de impedir um só pecado mortal.
É assim que, especialmente neste tempo de carnaval, o Senhor é
crucificado pelos pecadores milhares de vezes cada dia. Imagina, pois, que são
tantos os Calvários, quantos são os antros do pecado, ou melhor, quantas são as
almas pecadoras. Ah, meu pobre Redentor!
II. Na vida de Santa Margarida Alacoque se lê que num dos dias que antes
de principiar a Quaresma são consagrados ao prazer, Jesus Cristo se lhe mostrou
todo rasgado de feridas e coberto de sangue. Tinha a cruz nos ombros e com voz
triste e queixosa disse: "Não haverá ninguém que tenha compaixão de mim e
queira compartilhar comigo as dores que sofro por causa dos pecadores,
especialmente nestes dias?" Ouvindo isso, a Bem-aventurada lançou-se aos
pés de seu divino Esposo e ofereceu-se a sofrer em união com Ele, pelo que o
Senhor a carregou de uma cruz pesadíssima.
Imitemos na medida de nossas forças à Santa Margarida, desagravando o
Coração de Jesus. Nestes oito dias ouçamos com devoção uma missa, façamos ao
menos uma comunhão reparadora, e, não só com o nosso exemplo, mas também com
palavras, excitemos os outros a fazerem o mesmo. No correr do dia, digamos
muitas vezes:+ Meu Jesus, misericórdia (1). Enquanto os outros só pensam em distrair-se com divertimentos
mundanos, procuremos, mais do que de ordinário, fazer companhia a Jesus
sacramentado, ou recolhidos em nossa casa aos pés de Jesus Cristo,
compadecer-nos dele pelas muitas ofensas que Lhe são feitas.
Tenhamos por certo que estes obséquios são muito agradáveis ao Coração
divino, mas, para que Lhe sejam mais agradáveis ainda, formemos a intenção de
os unirmos com os merecimentos do Redentor e de toda a corte celestial, dizendo
muitas vezes: + "Eterno Pai, nós Vos oferecemos o sangue, a paixão e a
morte de Jesus Cristo, as dores de Maria Santíssima e de São José, para
satisfação de nossos pecados, em sufrágio das almas do purgatório, pelas
necessidades da santa Madre Igreja e pela conversão dos pecadores"[2].
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1. Is 27, 9.
2. Indulg. de 300 dias cada vez.
3. Indulg. de 100 dias. ― Aos obséquios indicados podem acrescentar-se
os seguintes:
1º. Percorrer cada dia as estações da Via Sacra, ou sufragar de outra
forma aquelas almas do purgatório que em vida mais se esforçaram por desagravar
a Jesus Cristo, no tempo de carnaval.
2º. Em todo este tempo, fazer com mais perfeição e fervor as ações
ordinárias, em particular as que se referem diretamente ao serviço de Deus.
3º. Finalmente, visto que Deus é ofendido especialmente pelos excessos
no beber e comer e pelos pecados de impureza, mortificar mais do que em outros
tempos o apetite, tanto na qualidade como na quantidade da comida, e, com
licença do Diretor, alguma penitência corporal.
(Santo Afonso Maria de Ligório. Meditações: Para
todos os Dias e Festas do Ano: Tomo Primeiro: Desde o primeiro Domingo do
Advento até Semana Santa inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p.
267-269.)
Fonte: Blog São Pio V
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