A Nova Missa: Testemunho equívoco da fé
3º) Dogma da Consagração e da Transubstanciação
Doutrina
Católica
|
Doutrina
Protestante
|
Sim, são as palavras da Consagração pronunciadas
pelo sacerdote, e não a fé dos assistentes, que tornam Jesus Cristo presente
corporalmente sob as aparências do pão e do vinho, e assim realizam a
transubstanciação.
|
Não, não são as palavras da Consagração mas a fé
dos assistentes que produz durante a Ceia uma certa presença real de Cristo:
a presença real espiritual. Não há transubstanciação.
|
1. Várias mudanças na Missa Nova
favorecem a doutrina protestante de que não há Consagração na Missa, mas apenas
uma narração ou comemoração da ceia do Senhor. Assim:
A) Modo e tom narrativo da Consagração na Missa Nova
No
“Ordo” de São Pio V
|
No
novo “Ordo”
|
Há uma separação nítida, muito bem destacada até
pelos caracteres tipográficos, entre as palavras introdutórias (narrativas
situando historicamente a Consagração na última Ceia) e a fórmula
propriamente dita da Consagração, que torna a Jesus Cristo realmente presente
sob as espécies de pão e vinho. Depois da locução: “Tomai e comei dele todos”
– uma pontuação marca a passagem da narração para as palavras realizadoras do
mistério da Presença Real. O celebrante as pronuncia não em tom recitativo,
como se faz numa narração, num memorial, mas ele as diz em tom intimativo,
quer dizer, no tom normal de alguém que realiza uma ação pessoal. Assim como
o Padre diz: “Eu te batizo”, ou: “Eu te perdoo os pecados”; ele diz: “Isto é
o meu Corpo” – “Este é o cálice do meu Sangue (...)”. A pessoa do padre como
que desaparece para ceder lugar à pessoa de Jesus Cristo a Quem aquele
empresta a voz de maneira que as palavras são do próprio Cristo.
|
A locução: “Tomai e comei todos vós” – inicia a
fórmula consecratória. Passa a fazer parte da fórmula que tornaria Jesus
realmente presente. Com isso, o tom narrativo atinge também a fórmula
consecratória, estendendo a toda ela a ideia de que se trata não da renovação
de um ato do Senhor, mas de uma simples narrativa de um fato passado. Além
disso, nos novos Missais as fórmulas consecratórias não estão
tipograficamente tão destacadas como nos Missais de São Pio V, o que
sublinhava mui fortemente a mudança de ação. Assim, o padre é levado a não
interromper a narração da Ceia e a pronunciar as palavras da Consagração no
mesmo tom narrativo e sem separá-las das palavras que as precedem. As
palavras não são de Cristo, são do padre; como acontece em qualquer narração.
|
B) Segunda mudança que favorece a doutrina dos protestantes
No “Ordo” de São Pio V
|
No novo “Ordo”
|
Após a primeira Consagração, seguro de não ter
mais em suas mãos o pão, mas o verdadeiro Corpo de Cristo, o padre ajoelha-se
para adorar a Deus; depois, levantando-se, eleva a santa Hóstia para
apresentá-la à adoração dos assistentes ajoelhados, e a adora novamente
depois de tê-la colocado sobre o corporal que significa o sudário.
|
Tudo está mudado. Como se nada tivesse passado, o
padre, sem adorar, eleva a Hóstia, apresenta-a à assistência que, igualmente,
permanece de pé, depois a depõe sobre a patena e só então ajoelha-se.
|
Suprime-se assim um gesto natural
de adoração que manifestava a fé na Presença Real em virtude das palavras da
Consagração e se favorece a doutrina protestante de que a presença de Jesus
Cristo é fruto da fé da assembleia. O católico diz: Eu creio porque Jesus está
presente. O protestante diz: Jesus está “presente” porque eu creio. Na Missa
tradicional, só a versão católica é possível. Na Missa Nova a interpretação
protestante também tem cabimento.
C) Terceira mudança. A mudança a que acima nos referimos, introduzida
na Consagração do pão, se reproduz na Consagração do cálice, e ainda renova o
equívoco, agravando-o pelo deslocamento das palavras “Mysterium fidei”
Na
Missa Tradicional
|
Na
Missa Nova
|
A expressão “Mysterium
fidei”, incluída na fórmula da Consagração do cálice, não sofre nenhuma
outra interpretação senão a católica. É uma confissão imediata de fé no
mistério da transubstanciação. O “mistério de fé” é o que as palavras da
Consagração realizam: a transubstanciação ou mudança do pão e do vinho no
Corpo e no Sangue de Cristo.
|
Depois de ter elevado e repousado o cálice, o padre
faz uma genuflexão, levanta-se e diz em voz alta: “Eis o mistério da fé”.
Qual o mistério? – Ora, reponde o católico, o mistério da transubstanciação.
– Não, responde o protestante, é o mistério da fé dos fiéis que torna Cristo
“presente” no meio de nós. Tanto assim que só depois que eles adoraram, é que
o padre proclamou: “Eis o mistério da fé”.
|
Na verdade, estamos diante de um
rito equívoco, que pretende agradar a católicos e protestantes, e mais a estes.
D) Aclamação após a Consagração
Segundo o novo “Ordo”, logo após
a Consagração, o povo deve fazer uma aclamação, para a qual se fixa três
textos. Dois deles terminam com a expressão “até que venhais”.
“Anunciamos a vossa Morte,
Senhor, e proclamamos a vossa Ressurreição, até que venhais”.
“Todas as vezes que comemos deste
Pão e bebemos do Cálice, anunciamos a vossa Morte, Senhor, até que venhais”.
Sem dúvida, a expressão “até que
venha” é de São Paulo (I Cor. XI, 26), e portanto em si mesma não pode ser
censurada. Na Primeira Epístola aos Coríntios, ela indica a espera da última
vinda de Jesus. Todavia, colocada logo após a Consagração, quando Nosso Senhor acaba de vir substancialmente ao altar,
essa expressão pode induzir a pensar que Ele
não está presente, que Ele não veio
pessoalmente sob as espécies eucarísticas. Tal inovação, sobretudo se feita
numa época em que há em meios católicos a assustadora tendência de negar a
presença real, tem como consequência inevitável favorecer a diminuição da fé na
transubstanciação.
4º) Dogma do Sacerdócio Hierárquico
Doutrina
Católica
|
Doutrina
Protestante
|
Sim, o padre possui um verdadeiro sacerdócio
hierárquico que lhe dá poderes que os outros fiéis não têm.
|
Não, não há sacerdócio fora daquele que possuem
todos os batizados.
|
Confundir o sacerdócio dos fiéis
com o do padre seria adotar, uma vez mais, um princípio protestante. Pois,
segundo os pseudo-reformadores do século XVI, o celebrante não é sacerdote num
sentido diferente daquele em que o povo o é, mas apenas preside a assembleia
eucarística, como delegado de todos os circunstantes. Os protestantes afirmam
que é o povo que celebra o memorial do Senhor, sob a presidência do chefe da assembleia.
O novo “Ordo” estabelece uma confusão entre o sacerdócio hierárquico e dos
fiéis, quer no rito, quer em vários números da “Institutio”.
1. No
“Ordo” tradicional, o “Confiteor”
inicial é dito em primeiro lugar pelo padre, e depois pelo acólito em nome do
povo. Essa distinção marca claramente a diferença existente entre o celebrante
e os fiéis. No novo “Ordo”, o “Confiteor” é dito simultaneamente pelo
sacerdote e pelo povo. Tal modificação tende a insinuar uma identidade entre o
sacerdócio do presbítero e o dos leigos. Foi supressa a absolvição dada pelo
padre ao fim do “Confiteor” - outra
inovação que contribui para tornar menos precisa a distinção entre o sacerdócio
hierárquico e a condição de simples fiel.
Há entre o
“Confiteor” da Missa Nova e o dos luteranos, traços comuns que chamam a
atenção. Lutero também fez do “Confiteor”
uma oração comum do sacerdote e da assembleia. O pastor luterano L. Reed, na
obra citada acima, indica o alcance dogmático destas mudanças: “Reconhecendo o
princípio do sacerdócio de todos os fiéis, fez-se da Confissão um ato da
congregação, e não apenas do sacerdote” (Luther D. Reed., The Lutheran liturgy,
p.257).
2. Na
Prex eucharistica III (“Vere sanctus”)
é dito sem mais ao Senhor: “populum Tibi
congregare non desinis, ut a solis ortu usque ad accasum oblatio munda
offeratur nomini tuo”, onde o ut
(a fim de que) faz pensar que o elemento indispensável
à celebração seja o povo em vez do sacerdote; e uma vez que não se precise nem
sequer aqui quem seja o que oferece,
o próprio povo surge investido de poderes
sacerdotais autônimos (cfr. “Breve Exame Crítico”, V, 1).
3. O
n.º 7 da “Institutio”, mesmo depois
de corrigido, afirma que é o povo que celebra o memorial do Senhor ou
sacrifício eucarístico. Note-se, com efeito, que o agente de “celebrandum” não é “sacerdos” ou “Christus”,
mas sim “populus Dei”.
“Na Missa ou
Ceia do Senhor, o povo de Deus é reunido, sob a presidência do sacerdote, que
faz as vezes de Cristo, para celebrar o memorial do Senhor ou sacrifício
eucarístico” (“Institutio”, n.º 7).
4. No
n.º 10 da “Institutio”, declara-se
que a Prece Eucarística constitui uma “oração presidencial”. Acontece que o
mesmo número conceitua as “orações presidenciais” como as que “são dirigidas a
Deus em nome de todo o povo santo e de todos os circunstantes”. Qualquer leitor
será levado por esta passagem a pensar que na Consagração o padre fala
principalmente em nome do povo. Mas a parte principal da Prece Eucarística, que
é a Consagração, é dito pelo sacerdote exclusivamente em nome de Nosso Senhor.
Corrobora isto
o n.º 12, dizendo que “a natureza das partes presidenciais” (portanto também a
Consagração) exige que sejam pronunciadas em voz alta e distinta, e por todos
atentamente ouvidas.
A propósito, é
bom lembrar o anátema lançado pelo Concílio de Trento: “Se alguém disser que
deve ser condenado o rito da Igreja Romana pelo qual parte do Cânon e as
palavras da Consagração são proferidas em voz baixa (...), seja anátema”
(Denz.-Sch. 1759).
5. A
posição do sacerdote é também minimizada:
a) pela
maneira de celebrar “versus populum”,
que o apresenta não como sacrificador diante do altar a oferecer o Santo
Sacrifício, mas como o presidente de uma assembleia a distribuir, diante de uma
mesa, o pão a seus irmãos;
b) pelo
desaparecimento ou uso facultativo de muitos paramentos (cfr. n.º 298 da “Institutio”).
c) pela
multiplicidade de ministros (da Eucaristia, leitores, comentadores, salmistas, etc.),
com consequente distribuição entre leigos de funções cultuais que eram
peculiares do ministro sagrado;
d) da
definição da “oratio universalis seu
fidelium” (oração universal ou dos fiéis), na qual se sublinha o “ofício
sacerdotal” do povo apresentado de maneira equívoca, pois que se silencia sobre
sua subordinação ao sacerdócio do padre.
Nenhum comentário:
Postar um comentário