Meditações de Santo Afonso de Ligório para a Novena de Natal 2º Dia – 17 de dezembro
Hostiam et oblationem noluisti; corpus autem aptasti mihi.
Não quisestes hóstia nem oblação, mas me formastes um corpo (Hb 10,5)
Considera a grande amargura de que o coração de Jesus devia sentir-se
penetrado e oprimido no seio de Maria, no momento em que seu Pai lhe colocou ante
os olhos a longa série de desprezos, dores a agonias, que teria de sofrer durante sua
vida para livrar os homens de seus males.
Eis como o profeta faz falar a Jesus: Desde a manhã o Senhor abriu-me o
ouvido. Desde o primeiro instante de minha concepção, meu Pai me fez conhecer a
sua vontade que eu levasse uma vida de penas, para ser depois imolado na cruz. E eu
não contradigo... entreguei meu corpo aos que me batiam. Tudo aceitei para a vossa
salvação, almas queridas, desde então abandonei meu corpo aos flagelos, aos cravos e
à morte.
Tudo quanto Jesus Cristo teria de sofrer durante sua vida e na sua paixão
pairou ante o seu espírito desde o seio de sua. Mãe, e Ele o aceitou com amor; mas
para resignar-se a esse sacrifício e para vencer a repugnância natural dos sentidos, ó
Deus! que angústia e que opressão não sofreu o coração inocente de Jesus! Ele sabia de antemão o que devia sofrer ficando encerrado nove meses na escura prisão do seio
de Maria; sabia a que humilhação e penas devia sujeitar-se nascendo numa fria gruta
que servia de abrigo aos animais, e passando depois trinta anos na oficina dum pobre
artífice; sabia que os homens o tratariam como a um ignorante, um escravo, um
sedutor, um criminoso digno de morte e da morte mais infame e mais dolorosa que se
possa infligir aos celerados.
Nosso amantíssimo Redentor aceitou tudo isso a cada instante; e assim, a cada
instante sofreu em conjunto todos os tormentos e todos os opróbrios que o aguardavam até a sua morte: O próprio
conhecimento de sua dignidade divina lhe fazia sofrer mais profundamente as injúrias
que deveria receber dos homens, e nunca as perdia de vista. A minha ignomínia está
todo o dia diante de mim, dissera pelo profeta; e por essa ignomínia entendia
sobretudo aquela confusão que devia provar um dia vendo-se despojado de suas
vestes, flagelado, suspenso por três cravos de ferro e vendo assim terminar a vida no
meio dos desprezos e maldições desses mesmos homens pelos quais morria: Foi
obediente até a morte, até a morte da cruz. E por que? Para salvar a nós pecadores
miseráveis e ingratos.
Afetos e Súplicas
Ah! meu amado Redentor, quanto vos custou desde a vossa entrada neste
mundo o livrar-me do abismo em que me lançaram os meus pecados! Para me
libertardes da escravidão do demônio, ao qual me vendi voluntariamente entregandome
ao pecado, quisestes ser tratado como o pior dos escravos; e eu, sabendo isso,
contristei muitas Vezes o vosso amabilíssimo coração, que tanto me amou! Mas já que
vós, que sois inocente e que sois o meu Deus, aceitastes por meu amor uma vida e
uma morte tão penosas, aceito por vosso amor, ó meu Jesus, todas as penas que me
vierem de vossas mãos. Eu as aceito e abraço porque me vêm dessas mãos
traspassadas um dia para me livrarem do inferno que tantas vezes mereci. O amor que
me testemunhastes, ó meu Redentor, prontificando-vos a sofrer assim por mim,
obriga-me deveras a resignar-me por vós a todos os sofrimentos, a todos os desprezos.
Senhor, pelos vossos méritos, dai-me o vosso santo amor; o vosso amor tornar-me-á doces e amáveis todas as dores e todas as ignomínias. Amo-vos sobre todas as coisas,
amo-vos de todo o meu coração, amo-vos mais do que a mim mesmo. Mas no
decorrer de toda a vossa vida destes-me tantas e tão grandes provas de vosso amor, e
eu ingrato, após tantos anos de existência, que prova de amor vos tenho dado até
agora? Fazei, pois, ó meu Deus, que nos anos que me restam de vida eu vos dê
qualquer prova do meu amor. Não ousaria, no dia do juízo, aparecer diante de vós,
pobre como sou atualmente e sem nada haver feito por amor de vós. Mas que posso
fazer sem a vossa graça? Só posso pedir me ajudeis, e mesmo essa oração é um efeito
da vossa graça. Meu Jesus, socorrei-me pelos méritos das vossas dores e do sangue
que derramastes por mim.
Santíssima Virgem Maria, recomendai-me a vosso divino Filho, conjuro-vos pelo
amor que lhe tendes: considerai que sou uma das ovelhas pelas quais vosso Filho deu a
vida
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