Meditações de Santo Afonso de Ligório para a Novena de Natal 7º Dia – 22 de dezembro
In própria venit, et sui eum non receperunt.
Veio para o que era seu, e os seus o não receberam (Jo 1, 11)
Apenas concebido no seio de Maria, ele viu a cruel ingratidão, que devia receber dos homens.
Viera do céu para acender na terra o fogo do amor divino; esse único motivo o levou a deixar-se
imergir num abismo de dores e opróbrios: Vim trazer o fogo sobre a terra, e que quero senão que
se inflame? E via um abismo de pecados que os homens iriam cometer depois de receberem
tantas provas de seu amor! Eis, diz S. Bernardino de Sena, o que lhe causou uma dor infinita.
Nós mesmos sentimos pena insuportável vendo-nos tratados com ingratidão; é que,
segundo a reflexão do bem-aventurado Simão de Cássia, muitas vezes a ingratidão aflige
mais a nossa alma do que qualquer outra dor ao corpo. Qual não foi pois a dor de Jesus Cristo,
nosso Deus, ao ver que corresponderíamos a seus benefícios e amor com ofensas e injúrias! Ele
se queixou pela boca de Davi: Deram-me males em troca de bens, e ódio em troca do amor que
eu lhes tinha; mas também hoje em dia parece que Jesus Cristo se lamenta: Sou como um
estranho no meio de meus irmãos, por ver um grande número deles viver sem o amar e sem o
conhecer, como se os não houvera beneficiado, e como se nada houvera sofrido por amor deles.
Ah! que caso fazem hoje muitos cristãos do amor de Jesus Cristo? Nosso Senhor apareceu um
dia ao bem-aventurado Henrique Suso sob a forma dum peregrino a mendigar de porta em
porta um abrigo; mas todos o repeliam injuriando-o grosseiramente. Quantos se parecem com
aqueles de que falava Jó: Diziam a Deus: Retirai-vos de nós...; E isso depois que enchera suas
casas de toda a sorte de bens.
No passado, também nós fomos ingratos; queremos ainda continuar a sê-lo? Oh! não: esse
amável Menino, que do céu veio sofrer e morrer por nós para obter o nosso amor, não merece
tal ingratidão.
Afetos e Súplicas
É pois verdade, meu Jesus, que descestes do céu para vos fazer amar de mim; viestes
abraçar uma vida de penas e a morte da cruz por meu amor, a fim de abrir-vos a entrada do
meu coração; e eu vos repeli tantas vezes dizendo: Recede a me, Domine: Retirai-vos de mim,
Senhor; não vos quero! —Ah! se não fôsseis um Deus de bondade infinita, e se não tivésseis dado a
vossa vida para perdoar-me, não ousaria pedir-vos perdão. Mas ouço que vós mesmo me ofereceis
a paz: Converteis-vos a mim, dizeis, e eu me converterei a vós. Pois bem, meu Jesus, vós a
quem ofendi, vos fazeis meu intercessor. Não quero pois fazer-vos ainda a injúria de desconfiar
da vossa misericórdia. Arrependo-me de toda a minha alma de vos haver ofendido e desprezado,
o Bem supremo; recebei-me em vossa graça, conjuro-vos pelo sangue que derramastes por mim.
Não, meu Redentor e meu Pai, não sou digno de ser chamado vosso filho depois de haver tantas
vezes renunciado ao vosso amor; mas vós com os vossos méritos me tornais digno dele. Agradeçovos,
meu Pai, agradeço-vos e amo-vos. Ah! já a lembrança da paciência com que me suportastes tantas anos e das graças que me prodigalizastes após tantos ultrajes da minha parte, deveria
fazer-me arder sem cessar de amor por nós. Vinde, pois, meu Jesus, não quero mais repelir-vos;
vinde habitar em meu pobre coração. Amo-vos e quero amar-Vos sempre; inflamai-me cada vez
mais recordando-me sempre o amor que me tivestes.
Minha Rainha e minha Mãe, ajudai-me, pedi a Jesus por mim: fazei que durante o resto
da minha vida, eu seja grato para com esse Deus que tanto me te amado mesmo depois de
haver recebido de mim tantas ofensas
Nenhum comentário:
Postar um comentário