"Como se conciliam a Providência Divina e a existência de tanta desgraça no mundo?
Meu bom filho morreu em trágico desastre. Não terá a providência errado, ao permitir isso?"
"Dizia-me um amigo: 'Não perca seu tempo, procurando saber quais são os pretensos desígnios da Providência, procure antes, dar execução às suas providências. Não confie na moral do 'Deus é grande', pois sabemos que Ele é infinitamente grande, mas que isto não impede sejam infinitamente inflexíveis as leis que regem o universo'.
Desejo, em consequência, saber como se relacionam a Providência e as leis fixas do universo."
As questões acima tratam da Providência Divina e da sua ação neste mundo, focalizando dois aspectos do problema: "Deus e o sofrimento do homem"; "Deus e os meios de prover à felicidade humana".
Já mais de uma vez em P.R. (Pergunte e responderemos) tivemos ocasião de abordar questões semelhantes. Assim em:
5/1957 - o mal no mundo;
32/1960 - as imperfeições do universo;
36/1960 - Deus, autor do pecado?
3/1957 - o inferno;
31/1960 - a bondade de Deus e o inferno.
Evitando repetir sem necessidade o que já dissemos sobre o assunto, trataremos abaixo dos três seguintes pontos:
1) A realidade da Providência Divina;
2) Providência Divina e felicidade humana;
3) Providência e "Providencialismo";
1. A realidade da Providência
A Providência é o atributo divino que preside ao governo de todas as coisas, fazendo que cada qual se encaminhe para o respectivo fim, ou seja, para Deus.
A existência da Providência constitui uma verdade racional, professada por filósofos, for mesmo do Cristianismo. Com efeito, a ideia de um Deus desinteressado pela felicidade do gênero humano é ilógica; opor-se-ia à noção da Perfeição Divina; em verdade:
Ou Deus é o Autor do mundo e do homem. Neste caso, tendo criado em vista de determinado fim, Ele acompanha as suas criaturas até a consecução deste fim;
ou simplesmente Deus não é... Não existe. Professar um Deus sem Providência é professar um absurdo; equivale mesmo a negar a existência de Deus.
Resta, porém, averiguar como a solicitude do Senhor para com as criaturas se concilia com as desgraças existentes no universo. É o que vamos focalizar, procurando traçar algumas grandes linhas que concorram para elucidar os casos particulares.
2. Providência Divina e felicidade humana
Antes do mais, faz-se mister recordar em que consiste o mal, evocando sumariamente o que já foi dito em P.R. (Pergunte e Responderemos) 5/1957.
Longe de ser uma entidade ou algo positivo, o mal é uma carência de entidade divina... Da entidade que deveria estar presente em tal e em tal ser; assim, diz-se que a falta de braços, num homem, é um mal, pois os braços pertencem à integridade da natureza humana (o homem se desenvolve e afirma naturalmente mediante os seus braços); o mesmo, porém, não se dirá da falta de nadadeiras no homem, pois a natureza humana por si só não foi feita pra viver dentro da água.
Distingue-se:
O mal ou carência na ordem física; o mal físico, do que acima demos um exemplo (a ausência de braços);
O mal ou a carência na ordem moral; o mal moral. Consiste na falta de harmonia de determinado ato humano com o seu Fim Supremo ou com Deus. Todo ato oposto à Lei de Deus ou pecado é um mal moral.
O Senhor não fez o mundo mau, mas deu originalmente a cada criatura o grau de perfeição correspondente à sua essência. O mal entrou no mundo por obra do homem. Esse abusou da faculdade de livre arbítrio: em vez de a dirigir para Deus, Bem Supremo, o primeiro homem a dirigiu conscientemente para uma criatura. Rompendo assim a harmonia da natureza humana com Deus, o primeiro pai fez que se rompesse a harmonia dos elementos inferiores materiais existentes dentro do homem e em torno deste; dai os desgastes de saúde, a dor e a morte que todo homem padece;dai também as calamidades dos cosmos, como secas, enchentes, incêndios, etc.
De todo o mal, moral e físico, assim desencadeado, a Sabedoria Divina está isenta de culpa. A raiz das desgraças é a liberdade humana, a faculdade que Deus outorgo ao homem para o dignificar, mas que este usou indevidamente. O Criador não quis entravar nem canalizar o uso dessa liberdade, pois isso seria contraditório e indigno do Todo-Poderoso. Este devia ter, e de fato tinha, recursos suficientes (mesmo sobejos) para não permitir que o mal vencesse o bem, sem que fosse necessário violentar a liberdade humana. Justamente tais recursos constituem o objetivo em torno do qual se exerce a Providência Divina...
É portanto, a esta que vamos agora voltar nossa atenção de maneira especial.
Os teólogos costumam afirmar, como notamos atrás, que Deus jamais haveria permitido á criatura humana desencadear o mal neste mundo, se Ele não tivesse a Sabedoria e o Poder necessários para fazer dos malesa ocasião de bens, e bens ainda maiores.
Eis como S. Agostinho exprime essa verdade:
"O Deus Todo-Poderoso... Sendo sumamente bom, de modo nenhum permitiria que aparecesse algum mal em suas obras, se Ele não tivesse o poder e a bondade para fazer sair do próprio mal o bem."
Pergunta-se, porém: qual será o tipo de bem que o Criador pode querer produzir a partir dos males que as criaturas acarretam sobre o mundo?
a) Em primeiro lugar, observa-se que não serão bens materiais (saúde, dinheiro, emprego, isenção de tribulações, etc.), porque tais valores são muito relativos; satisfazem apenas a uma parte do composto humano, ou seja, ao corpo; na verdade o ser humano só atinge a sua grandeza característica mediante o desenvolvimento da sua personalidade, a qual é marcada principalmente pelos valores da alma. Acontece mesmo não raro que os bens temporais causem detrimento, pois embotam a consciência, fazendo-lhe esquecer que há bens maiores: os bens da vida eterna. Em lugar de favorecer a formação da personalidade humana, que é essencialmente aberta para o Infinito, tendem a fechá-la na mesquinhez e no egoísmo. É, antes, pela privação desses bens temporais que o homem se torna mais perfeito homem, emancipando-se do afeto desregrado de si e das criaturas que não o podem verdadeiramente engrandecer.
b) Por conseguinte, os bens que a Providência Divina há de visar (se não exclusivamente, ao menos primariamente), são os bens da alma e da vida eterna, pois é somente mediante destes que a criatura humana se torna perfeita como criatura humana. A distribuição dos bens da alma vem a ser assim o critério primário, embora não exclusivo, para se aquilatar se a Providência Divina "erra ou não erra", "é justa ou injusta".
Não há dúvida, enquanto a Sabedoria de Seus vai oferecendo ao homem os meios de santificação ou de consecução da felicidade Eterna. Ela não lhe nega, em doses oportunas, o bens temporais (saúde, solução da crise financeira, boa fama, etc.); o cristão, porém, deve ter consciência que esses valores temporais são consolações passageiras (devidas ao fato de sermos corpo e alma, e não unicamente alma), e consolações destinadas apenas a alentar o homem mortal na demanda do que é Eterno.
Jesus Cristo propôs a seus discípulos não propriamente consolos e compensações temporais, mas simplesmente "abraçar a cruz e segui-Lo"; este é certamente um dos traços marcantes de qualquer programa de vida cristã; a fidelidade a Deus não garante necessariamente felicidade terrestre. As graças temporais não hão de faltar ao cristão, mas ser-lhe-ão dadas em função de bens maiores; em consequência, um currículo de vida que, humanamente falando, seja pouco afagado pela sorte, pode, não obstante, estar perfeitamente englobado dentro do plano da Providência Divina.
Ninguém negará ser lícito ao cristão desejar bens temporais (a cura de urna doença, obtenção de um emprego, sobrevivência de esposo ou filho), na medida em que dão alívio estímulo para ulterior caminhada na terra; considerando-se
sob esse aspecto, discípulo de Cristo pode pedi-los ao Pai do céu; mas não deve fazer da obtenção dos mesmos pedra de toque para julgar Providência Divina; mal sabemos
que, na verdade, nos convém; tentamos acertar, conjeturando
que saúde ou emprego seriam valiosos para melhor conseguirmos
vida eterna (o único bem que em hipótese alguma
podemos perder), mas facilmente nos iludimos (nem mesmo
urna vida longa sobre terra pode ser tida como algo de certamente vantajoso para salvação eterna; morte prematura
não é necessariamente um mal; quem pode prever uso que
dos seus futuros anos de vida faria um jovem falecido na flor
da idade?) Por isto asseverava S. Agostinho «haver certos
bens que Deus nos denega justamente por nos ser propócio
que Ele só concederia se nos quisesse punir» (Deus quaedam
negat propitius quae concedit iratus», In lo tr. 73).
Ainda em outros termos: cristão lembra-se-á de que não é o centro do mundo de modo que tudo deva acontecer de acordo com que ele julga oportuno. Critério que há de nortear os seus juízos e desejos, seja sempre seguinte: «Será que, mediante consecução
de tal ou tal bem temporal, me tornarei homem mais perfeito,
menos mesquinho ou apegado mim, mais aberto para Deus
próximo?». certamente este critério que a Providência Divina
aplica ao distribuir os seus bens, denegando por vezes que nos
parece vantajoso e permitindo que nos causa repulsa momentânea.
A situação do cristão que nesta vida temporal julga
tudo luz da eternidade, empregando «estranhos» critérios
para avaliar felicidade e desgraça, pode muito bem ser ilustrada por duas imagens que um escritor moderno, Antonin Eymieu,
assim propõe
«A vida neste mundo apenas um começo, não é o todo. É um
meio, não fim. plano da Providencia não consiste um colocar
céu sobre terra, mas em dar aos homens sobre terra os meios
de merecer céu.
Tal ponto de vista de Deus. Para compreender algo da Providência, é preciso ver mundo dentro desta perspectiva. Não entenderemos coisa alguma se considerarmos essa grande questão apenas em seus aspectos laterais, em seus pormenores, pormenores que impedem a visão do conjunto, como uma árvore diante dos olhos de
alguém pode encobrir floresta. Muito menos nos havemos de deter
sobre mau aspecto da questão, ou seja, sobre o ponto de vista terrestre; a realidade apareceria então como um tapete visto ás avessas.
Se consideramos o mundo presente independentemente do mundo futuro, ele se torna incompreensível».
Oportuno comentário poderia ser aqui inserido: quem considera historia deste mundo do ponto de vista meramente humano ou terrestre, é facilmente levado julgá-la um absurdo,
em que tudo parece frustrado fracassado... Lembre-se, porém,
de que este aspecto da realidade não é senão o avesso
de um tapete cuja verdadeira face (a outra, que vem depois
por cima) belíssima, rica de colorido harmonia; essa outra face da realidade que Deus, em seu sábio plano,
contempla o que nós um dia veremos, quando contemplarmos
as coisas diretamente sob a luz de Deus da eternidade. Se a realidade nos parece hedionda, isto se dá por
que contemplamos de um ponto de vista inadequado, ou,
simplesmente, do lado avesso.
«A criancinha no seio materno, se tivesse uso da razão. Se já fosse uma espécie de sábio que conhecesse perfeitamente seu mundozinho
próprio, mas nada mais soubesse, se portanto ignorasse que
um dia haveria de nascer, essa infeliz criancinha não compreenderia
sua situação: perguntaria por que acaso lá teria sido colocada, qual
razão de ser dos choques misteriosos que afetariam, qual sentido
dos seus pulmões destituídos de ar, qual valor dos seus olhos destituídos de luz, qual significado dos seus membros encolhidos destituídos de uso. Julgaria sua existência absurda, e com razão. Tal
existência só se justifica luz do termo para qual ela tende. A vida fora do seio materno, eis única explicação dessa primeira etapa. A vida do céu, eis a única explicado da existência humana neste
mundo. É para o céu que Providencia Divina nos vai levando, na
medida em que a nossa liberdade isto não se opõe. Ela não nos
lava para riqueza, o gozo ou os prazeres fúteis da terra; estas
coisas, que a nos talvez apaixonem, não interessam ou só interessam
na proporção em que ela (a Providência) as pode considerar como meios para determinado fim. para o céu que Providência tende, de tal sorte que os choques que nos sucedem com dor,
para ela não são senão meios mais eficazes de nos levar ao termo
de assegurar nossa entrada no mundo eterno» (La Providence et
la guerre. París 1917. 31s).
A imagem da criancinha no seio materno é realmente
feliz, para ilustrar condição do cristão nesta vida: o discípulo de Cristo vai, sim, passando por um processo de gestação
de tal modo que só ao chegar na glória celeste poderá
reconhecer significado valor de cada um dos elementos e episódios que ora lhe parecem obscuros (aliás, imagem já
foi utilizada por Sao Paulo em Gal 4,16; Cor 13,lls). A eternidade, e não o tempo, eis ponto de referência do
modo de pensar desejar do cristão.
As ideias até aqui expostas projetam luz sobre novo aspecto da
questão, a saber:
3. Providência e Providencialismo
Por «providencialismos entende-se mentalidade de quem julga
que Deus, por ser providente, há de derrogar mesmo ás leis da
natureza de maneira milagrosa.... Geralmente a fim de promover
bem-estar temporal imediato dos fiéis!
Vendo que na verdade Senhor não procede assim, os «antiprovidencialistas>
negam simplesmente Providência Divina, asseverando
que os acontecimentos se desencadeiam cegamente segundo as inexoráveis
leis da natureza.
Como se compreende, ambas as posições são erróneas.
Com efeito. Já vimos que Providencia Divina não se
pode identificar com um sistema de meios que garantam felicidade
temporal do homem. Portanto, não se pode esperar,
sob alegação de que «Deus é grande», que seremos necessariamente
isentos de alguma aflição; isto só se entenderia- se
aflição fosse um mal; ora tal não se dá: a cruz freqüentemente é o melhor instrumento de quebra do egoísmo e de
adesão mais plena do homem ao Supremo Bem, Deus.
Disto se segue que não podemos contar com milagres
como se fossem efeitos normais da Providência. Esta costuma, antes, exercer-se mediante concurso das causas criadas,
aproveitando atividade natural, até mesmo as deficiências e falhas, de cada uma, em vez de as remover ou de as impedir portentosamente. Vê-se, pois, que, mesmo sob regime
da Providência, o homem, longe de se poder isentar de colaborar ativamente, tem dever de utilizar industriosamente os
recursos que Ihe estejam ao alcance a fim de obter a solução
que pareça mais adequada para os seus problemas; justamente no setor dos recursos naturais que a Providencia Divina exerce primariamente sua ação.
Fica, pois, de pé o adagio assaz divulgado entre os fiéis:
«É preciso orar como se tudo dependesse de Deus, e agir como
se tudo dependesse de nós». Na verdade, Providência Divina
digna-se a envolver, na execução dos seus sábios planos, tanto
nossa a prece quanto a nossa atividade. Uma e outra são,
por livre desígnio divino, necessárias; mas nem uma nem outra é por si eficaz, sua eficácia; lhes provém unicamente do
fato de que Providencia as quer utilizar. Cf. «P. R. 17/1959,
qu. 2
A fim de melhor ilustrar as proposições acima, transcrevemos
aqui um ou outro dos exemplos da história universal aduzidos pelo
nosso consulente «conturbado» como motivo de perturbação.
«Veja Chile, nação católica: sacudido por terremotos. Rússia,
não.
Veja Lisboa: Em pleno dia de Todos os Santos de 1755 foi de
vastada por um dos maiores cataclismas de que se tem noticia, apesar
da presença real de Cristo sobre os altares...
Veja história, veja S. Luís de Montfort: poderia ter salvo a Franca pela renovação religiosa; morreu, porém, aos 40 anos, ao passo
que o satírico Voltaire se foi aos 90 anos! Por quê? Porque um
cuidava da saúde, outro não...
Mas temos exemplos de casa:
Eduardo Prado, que tanto fez pelo Catolicismo no Brasil numa
fase tão difícil no inicio da República, morre estupidamente de febre
amarela só por ter passado menos de 48 horas no Rio. Ao contrário,
Saldanha Marinho, arquimagónico, inimigo figadal da Igreja, residiu
anos fio nesta cidade nunca foi picado pelos mosquitos.
Veja a falta que nos faz um padre como Pe. Leonel Franca,
nenhuma falta que nos faria comunista N. N. hoje ainda vivo...
Mas por quê? Porque o saudoso jesuíta teve sempre coração fraco e o camarada N. N. não sofre de perturbações cardio-vasculares...
A Providência não modifica as leis de aço do universo. Um louco
ou uma criança que se pendurar numa janela além do limite exigido pela lei do equilíbrio, cairá no campo gravitacional, esborrachado
Entretanto, um ladrão poderá pular de uma janela para outra,
se não violar lei da gravidade, que rege todos os corpos... santificados ou não pela prática dos sacramentos...».
Os fatos assim catalogados não dependem contra veracidade da
doutrina que expusemos, nem se devem tornar motivo de perturbação.
Para que leitor reconheça, bastará lembrar que:
a) Uma perda temporal, uma calamidade particular ou pública,
nos aparecem como desastres que desconcertam. Não assim, porém,
que Deus os julga; em verdade, os flagelos na ordem temporal
não implicam em prejuízo na linha dos valores eternos (únicos valores que em caso algum poderiam ser negligenciados pela Providência). Ao contrário do que comumente se pensa, a experiência ensina
que, em vista do egoísmo congénito do homem, a dor é a escola de
engrandecimento da criatura; a Providência, por isto, não a dispensa
(dado que Ela queira proceder ordenadamente; ou sem milagres).
b) Deus não recompensa virtude com longevidade, nem pune
pecado com morte prematura ou trágica; justa sanção se exerce
primariamente no plano espiritual, que é o plano onde se situam
os verdadeiros valores. Note-se também que Deus não precisa necessariamente
de tal ou tal instrumento humano (sacerdote ou homem
público de grande valor) para realizar seus desígnios; Ele pode permitir a morte aparentemente precoce de benemérito personagem sem
que com isto o plano da Providência sofra mínimo detrimento; o Senhor é assaz poderoso para suprir, como de fato supre, por outra
via; a responsabilidade do reino de Deus, e em última análise, é d'Ele!
Quanto existência, as vezes prolongada, dos homens maus neste
mundo, S. Agostinho propõe as seguintes observações: Deus se serve dos homens maus, não atendendo a má intenção
dos mesmos, mas reta intenção do próprio Deus. Na verdade, assim.
como os maus fazem mau uso da natureza humana, ou seja, da obra boa de Deus, assim Deus bom faz uso bom até mesmo
das obras más dos homens, iníquos, a fim de que de modo nenhum
fiquem frustrados os desígnios do Todo-Poderoso. Se Ele, bom como
é, não tivesse poder de fazer servir os maus a causa da justiça e da bondade, de modo nenhum permitiria que nascessem ou vivessem.
Tais homens, Deus não os fez maus; Ele simplesmente lhes
deu a natureza humana. Criou natureza de cada ser, mas não
criou os pecados, que são algo de contrário da natureza. É verdade
que em sua precedência Ele não podia ignorar que tais indivíduos haviam
de se tornar maus e contudo, assim como sabia quais os males
que eles haviam de cometer, sabia também quais os bens que desses
males Ele havia de tirar» (serm. 214,3).
As ideias do S. Doutor não são senão a explicação dos princípios
gerais até aqui propostos.
c) As leis da natureza são geralmente respeitadas e aproveitadas
pela Providência Divina. Isto, porém, não quer dizer que sejam
inflexíveis; Deus as dobra ao seu poder, produzindo milagres segundo seus sábios desígnios. Os portentos, porém, supõem urna finalidade
grande e importante ser atingida: Senhor não faz milagres a esmo, por mera ostentação de poder.
Eis quanto se podia sumariamente dizer à guisa de elucidação
das questões formuladas no cabeçalho deste artigo.